autoretrato

um coração que fede

a bosta,

que amaldiçoa

a tudo quanto encosta;

duas mãos

que jamais deram

um soco (e gastaram

o tempo com carícias,

feito um louco)

uma porção de dentes

amarelados, em breve,

estragados;

o amor piegas,

a mente tosca,

a grana pouca, a alma

torta;

uma legião

de demônios atados

nos punhos da rede,

sem um deus que lhe

valha;

uma coleção

de fracasso, a frieza

do trabalho

com concreto e o aço,

o azul estampado

na parede.

cristovam melo
Enviado por cristovam melo em 05/01/2012
Reeditado em 05/01/2012
Código do texto: T3423204