De repente

De repente,

insiro-me no desleixo visual

ou na improdutividade da apatia,

deixo o espelho falando sozinho

ou o tempo correndo na inércia

de um relógio franzino.

De repente,

os valores viram pó,

a vontade ata-se em nós,

os desejos quedam-se aniquilados

e as expectativas jazem

num papel amarfanhado.

De repente,

o terço, a bíblia e a fé

tornam-se ateus,

o espaço, a minha volta, cresce

e eu decresço, neste mundo,

pigmeu...

De repente,

na impossibilidade dos passos,

prendo- me em famigerados laços,

e a letargia

sufoca-me, dia a dia.

De repente,

o sim endurece,

o não recrudesce

e o talvez fita-me

com olhar indiferente.

De repente,

o nada torna-se infinito,

o tudo se faz restrito

e, para sempre, a paz

transmuda -se

em conflito.