DÍVIDA
Pelas noites (longas noites)
quando o vento do teu descaso
varreu a minha alma carente e indefesa
e atirou-me contra os ásperos penhascos da dúvida
provocando dores lancinantes
- obrigado!...
Pelas madrugadas (ternas madrugadas)
em que o luar dos teus olhos (bonitos olhos)
iluminou meus passos,
iluminou meu futuro,
e me permitiu ver a vida como uma vasta planície
verdejante de esperanças:
- obrigado!...
Pelas palavras que, embora geradas no teu íntimo,
não foram articuladas
e deixaram um silêncio em meus ouvidos
ávidos de tua voz.
Pelas palavras negadas:
- obrigado!...
Pelas palavras ditas, malditas palavras,
que fizeram o meu coração triste e sombrio
e transformaram os meus olhos
em um vale de lágrimas.
Pelas palavras amargas:
- obrigado!...
Pelas palavras (benditas palavras)
articuladas plenas de ternura,
que me confortaram, me indicaram um norte,
apontaram-me um objetivo e uma meta a ser seguida.
Pelas palavras de amor e incentivo:
- obrigado!...
Pela negação do teu corpo nos dias de inverno
quando o frio era intenso,
ou quando o calor me consumia as entranhas
e o desejo me inflamava corpo e alma como um vulcão
transformando o meu sangue em lava incandescente.
Por esses momentos futilmente desperdiçados:
- obrigado!...
Pelo corpo entregue voluntariamente
(entre suspiros voluptuosos)
e sem tempo definido.
Por todas as entregas voluntárias
como o campo se abre ao arado,
às flores, aos besouros e aos colibris
ou como a terra recebendo a luz do sol ou as gotas da chuva.
Por essa doação sublime:
- obrigado!...
Pelos milhares de beijos e abraços
oportunos ou inoportunos,
implorados ou voluntários.
Pelos acordos e divergências:
- obrigado!...
Pelos momentos de nada e de tédio;
pelos momentos de tudo e de felicidade;
por todas as dúvidas,
por todas as certezas,
por todo o vazio
e pela plenitude obtida:
- obrigado!
e obrigado, enfim,
por essa parcela de vida,
minha dívida...