TIROS NA ESQUINA
madrugada, ano que finda e
um sabor de tumulto
tiros na esquina
em vaga luz remanescente
o filtro silencioso
do tempo
seu túnel de fugas e favas
acasos de temperança e fulgor
é o silêncio sem inocentes
manchetes na noite
NEWS
Globo divaga suas manchas negras
de fábulas fabricadas de benefícios
esquivo a espera e descuido
meu cordão de impedimentos
quase salva
estou crua de tempo
esquecida de outros vales de lágrimas
espumando espumante e uvas
amêndoas e dores
repenso meus manuais
e lembro na calçada os pés
ásperos
do mendigo
sua mandinga de salvação
ainda darei três voltas em um parque
deixarei que escorra outro ano
no centro da cidade as ruas desertas
a lamparina sem estrelas
nenhum movimento
ausência de interrogações
na noite que caminha
sexta sábado e seguinte
há lágrimas em teus olhos....