Nega
certa vez
numa noite fria e chuvosa
quando estávamos juntos
e você acreditava
que eu era poeta
e eu acreditava
que isso poderia ser verdade
e nos acreditávamos
que a brisa gelada da noite
poderia se dissipar
você me pediu
para escrever uma poesia
inspirada em você
rabisquei então, alguns versos
bonitos, rítmicos e simétricos
mas que não faziam jus a realidade
eram apenas versos
aquela noite passou
mas uma coisa precisa ser dita
quando ficar de frente ao espelho
pense em algo que
a faz se sentir bem
sorria
olho no fundo dos seus olhos refletidos
esse brilho
que você percebera lá no fundo
era esse brilho
que tentei de descrever
com minhas palavras
esse brilho
é mais real e mais belo
do que qualquer poesia
que foi ou será escrita
impossível ser justo ao descrevê-lo
impossível ser justo ao comentá-lo
e, ante a esse brilho inefável, calo-me
e peço desculpas
por tentar limitar com escritos
algo de beleza tão infinita.