LILITH
Eu sou aquela que reúne todas as condenações
Pois do Éden exilei-me, insubmissa, só e amarga
Do pó da terra criada, ousei transpor os portões
Áridas plagas trilhei, do Mal carreguei a marca.
Por recusar a vil sujeição ao primeiro homem
Julgaram-me demônio, arauto de destruição
Rainha das trevas que dominam e consomem
Estéril cortesã a atrair para um mar de corrupção!
Disseram que meu ventre seco nada podia gerar
Senão criaturas nefandas, assim como eu própria
Negros abismos selados, furnas que são meu lar
Monstro de luxúria, entre os casais gera a discórdia!
Mostrei-me vingativa, ao retornar furtiva ao Paraíso
Pintaram-me como a serpe que provocou a Queda
Malícia e inveja, destilando veneno letal e preciso
A morte tornou-se a companheira de Adão e Eva.
As portas do Jardim foram fechadas pela eternidade
Para mim, a Feiticeira que trouxe o engano ao mundo
Dizem que forço as janelas dos sonhos da humanidade
Para atormentar aqueles a quem devo o útero infecundo.
Injuriaram-me, afirmando que espalho pragas ao vento
Que arrebato as crianças, exaurindo-as como um vampiro
Em terríveis pesadelos obrigo os jovens em ato violento
A mortais abraços, a lhes roubar a força até o último suspiro!
Mas, oh! A História foi escrita pelos homens, aos quais ameaço!
Pois sou parte deles também, embora jamais venham a admitir
Eu torno o ferro impotente, sem utilidade o seu precioso aço
Ao lembrar que de carne e sangue são feitos e podem se ferir.
Sempre estarei presente, como uma sombra que se arrasta
Em busca da Luz que foi distribuída por Deus em partes iguais
Serpe, demônio, bruxa, coruja que traz influências nefastas
Oculta a seus olhos seguirei, mas esquecida, não serei jamais!