O Teatro da Vida (ou Prometeu Revisitado)
"Qué es la vida?, un frenesí;
qué es la vida?, una ilusión,
una sombra, una ficción.
Y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño,
y los sueños sueños son."
(CALDERÓN DE LA BARCA, "La vida es sueño")
A cara da verdade:
a platéia suando sangue,
ator que se repete.
Bêbado, afogo-me no
belo. Doando sangue à
besta que sempre me
chama de volta pra
casa. Meu delírio
casto, meus sonhos de
deuses mortos. Arre!
Deus que me beija a boca!
Doença de minhas entranhas!
Eu imolo minh’alma:
evento ímpar no
teatro da vida.
Faço-me ao mar,
feitiço dos homens.
Feito Odisseu, solerte,
ganho meu pão, partido.
Gosto amargo. Eu, até a última
gota, espremido em vão na
hora em que havia apenas
horror em meus olhos.
Hoje sou outro e,
intrépido, subverto minha
ira e mergulho no
infinito de meus sonhos.
“Je suis une force que vá”,
jogo com palavras.
Joyce, delírios de Dedalus.
Longa é a noite da alma e,
lá, a solidão é certa.
Lamentos de condenados,
mortos no paraíso,
mães inconsoláveis na
manhã do fim do mundo.
"Nego Tua essência, Deus!"
Nosso pai está morto e
não há ponte sobre o abismo
onde repousa Seu corpo
outrora esbelto; agora débil.
Ouro do Reno aos porcos.
Pode o homem enxergar?
Parcas a quem entrego meu destino de
podridão! Agora sei que
reino sobre sombras, que
resta-me a liberdade: um
regalo que não me basta.
Sozinha no último bordel, a
santa espera a puta e canta,
sorrindo, a última oração:
“Todos são sujos Senhor”, diz,
“tudo o que é Teu, é vil. E, ainda que
tanto amor eu tenha por Ti,
urge mostrar-Te o inferno.
Uma vez contemplado por teus olhos,
unge-o, torna-o para sempre
verdade e vida: imagem de Ti.”
Versos são frios, e é sempre
Vã a maior poesia.