Elegia

Vejo a fachada dos prédios,

A sujeira das calçadas,

A lata de refrigerante na

Mão do balconista da farmácia,

Os automóveis coloridos, um

Bar, uma igreja.

Caminho a esmo, não

Me sentindo seguro.

Meu amigo está morrendo,

Mas não como a maioria

De nós, no sentido budista, não,

Ele tem câncer no fígado.

Às vezes ele levanta

Da cama e olha pela janela

E tudo o que vê é a fachada

Do prédio em frente.

O que haverá para fazer

Quando o meu amigo for embora?

Certamente tudo poderá ser

Feito,

Porém,

Aquela garota que cantamos

Em meio às cervejas

E risadas, quando éramos

Dois bêbados rompendo

A madrugada,

Isto não poderá se refeito.

Nem tampouco o dia no

Qual nos conhecemos e

Houve aquele aperto de

Mão formal.

A primeira bebida, o primeiro

Emprego, a primeira garota,

O primeiro livro que realmente dizia algo,

Isto não poderá ser refeito.

Como um César

Eu gostaria de conquistar

A morte

E poder trazê-lo de volta

Quando ele for embora.

Todo o lirismo, toda

A poesia, o conceito do absoluto,

E um pedaço de carne defeituoso lhe

Levará daqui.

Um drinque senhora

Morte, um drinque.

Hoje não beberei com

O meu amigo.

Você entrou no mundo

Com um roído de dor

Não parece estranho que

Você o deixe com

O mesmo som.

E Sua cara continuará

Nas fotografias,

E os natais continuarão

Ocorrendo normalmente

E um cão que ainda

Nem nasceu

Andará de lá para cá

Sem notar a sua ausência

Daniel Barbosa
Enviado por Daniel Barbosa em 27/12/2011
Código do texto: T3408744
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