DESABAFO DE UM REVOLTADO

Porque jamais bebi da seiva da brandura...

Porque conheço a vil nudez do indelicado...

Porque senti, do injusto, a ardência da ranhura...

Porque entalhei, na carne, a marca do enjeitado...

Meus órgãos berram da ferida que supura

na enferma essência, no meu resto fatigado,

a transfundir-se no semblante de amargura

e a latejar-se nestes vincos, neste estado!

Que não me venham com alguma reprimenda,

pois eu bem sei que, para muitos, vida é prenda,

de tão felizes, não suportam dor alheia!

Eu não condeno as esperanças ledas, lindas,

desejo mesmo que lhes sejam (sempre!) infindas.

Peço, porém, respeito ao triste que pranteia...

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 26/12/2011
Reeditado em 26/12/2011
Código do texto: T3406851
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