Lamentos de um Octagenário
Ai! Que fardo pesado o que carrego...
Esquecido, quase surdo e meio cego.
Uso um troço n’ouvido e pouco converso,
Apontando pra ele há sempre um perverso!
Corpo sentido, mente fraca, sem sentido
Também ficam a vida e as filosofias.
Não importa mais o que não é entendido,
Entretido que fico com as patologias:
Diabetes, enfizema, osteoporose,
Rinite, safenas, gripe, osteartrose,
Mau disso, mau daquilo, pressão, depressão...
Minha vida, lenta e lerda, ficou uma merda!
Quão saudosamente lembro da mocidade!:
Lepidez, disposição, vigor, velocidade,
Violão, forró, festas, danças e ciclismo.
E em especial, as animadas peladas,
Que eram a alegria do tenso priapismo
E das canelas fortes, ágeis e tesadas.
Enfim, o meu passado, belo, tinha futuro,
O porvir não tem; e o presente é duro.