Companhia de Si

É preciso ter coragem

para sentir a aragem

do estar só.

É subir aos céus

e ser estrela.

É ser ímpar

em meio aos pares.

É ser grão

no meio da areia.

É ser tudo

no meio do nada.

É estar único

no meio dos bons,

é estar bem.

É achar graça de si

e encontrar a glória do só.

É ser forte

(gozar a própria sorte).

É achar o equilíbrio.

É se amar.

É saber remar.

É ter a arte de rimar.

É ser ar.

É estar consigo mesmo

(estando com todos).

É ter calma

e saber planar a alma.

É ser todos no tudo de ser.

L.L. Bcena, 26/08/2011

POEMA 525 - CADERNO: POEMAS AZUIS*

*Dedicado ao meu filho, Phill.

AZUL

Uma vanessa tropical travou na campânula

de uma ipoméia

o vôo oscilatório e helicoidal.

Dobra o quimono de franjas sinuosas,

marchetado e hachureado

com minérios de cobre:

aréolas, anéis, jóias concêntricas,

olhos de íris elétrica e de pupila enorme,

ocelos de um leque de pavão.

Sinto o perfume da flor nova,

com mais dois estames, buliçosos,

e quatro pétalas, de um esmalte raro,

molhadas nas tintas de céus fundos,

e cromadas com faiança das lagoas...

João Guimarães Rosa – in: MAGMA

PS- Phill,

observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).

Leonardo Lisbôa.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 25/12/2011
Código do texto: T3405778
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