COMBOIO DE GENTE

Meu peito é um circo,

coberto com lona

imunda e rasgada...

Uns vêem a alegria,

outros apenas a tristeza.

Eu já não ando vendo nada.

Meu peito é um céu

nublado e distante,

mundo ilusório...

Uns vêem esboços de anjos,

outros, um cinza de chumbo,

Eu vejo um céu conspiratório.

Meu peito é uma rua deserta,

com domicílios fictícios,

num beco sem saída...

Uns desistem e ficam,

Outros batalham e tombam,

Eu me escondo nessa casa caída.

Meu peito é árido, ora úbere.

Sei fazer a guerra de tiros,

sei lutar com os vocábulos...

Aonde uns ouvem os tiros,

outros plantam seus mortos

ocultos em taciturnos óculos.

Meu peito é terreno de mangue,

serpentes d'água e caranguejo,

ilhado por paredões barreados...

Uns achegam e enfiam a mão,

Outros não acham mais os vãos,

e todos em comboio, ajoelhados.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 22/12/2011
Código do texto: T3402478
Classificação de conteúdo: seguro