Postergar a realidade

Depois, sim, só depois...

Irei pensar, só depois

E assim será possível decifrar os pensamentos; hoje não...

Não, hoje não; hoje não consigo

A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,

O tamanho da minha vida real, intercalado no cérebro cansado

Um cansaço antecipado e infinito,

Um cansaço de mundos para visitar...

Nesta espécie de alma duvidosa...

Irei pensar, só depois; hoje não.

Hoje quero descansar, quero apagar as lembranças...

Quero descansar para voltar pensar amanhã, no dia seguinte...

Pensar no que fazer, como agir, que atitudes brotar de mim mesma

Tenho a vontade; mas não, hoje não posso

Amanhã penso como...

Amanhã será outro dia

Hoje só tenho vontade de esquecer

Tenho vontade de esquecer-me de dentro...

Não, não quero revelar mais nada, é segredo meu, não digo

Amanhã quero ser outra,

Quero ser minhas qualidades reais de inteligente, lido e prática

Sem vacilações, sem descompassos, sem entrelinhas,

Sem entre lados...

Amanhã quero ser outra, quero outra história...

Por hoje quero descansar das idéias

Amanhã volto a pensar...

Antes, não...

Amanhã talvez, serei finalmente o que hoje não posso ser.

Só saberei amanhã o que serei...

Amanhã te direi as palavras, que hoje não sei...

Sim, talvez amanhã, saberei o que as palavras dirão...

De mim...

Saberei o que virá, pra mim.

Amanhã voltarei...

*Inspirado no poema Adiamento, de Álvaro de Campos

"Quero ir na vida como um automóvel último modelo"

"Quero sentir tudo de todas as maneiras"

(Álvaro de Campos)

Cássia Nascimento
Enviado por Cássia Nascimento em 21/12/2011
Reeditado em 21/12/2011
Código do texto: T3399921