Nostalgia
Quando olho ao meu redor
Tudo tão estranho
Um filme de terror
Este pessoal passando
Gente que mais parece robô
Gente olhando pra todo lado
Todo mundo desconfiado
Esta senhora com cara de solitária
Usando calçado confortável
Ortopédico
Vai para a missa rezar
Pelo bom sucesso do exame médico
E aquele senhor logo ali
Com cara de não sei quê
Cinturão afivelado
Até o pescoço abotoado
De cima abaixo engomado
Com certeza é um
Da Previdência aposentado
Uma mocinha de semblante neutro
Bolsinha a tiracolo
Estudante de direito e não de fato
Que pessoal é esse
Que não se sabe
Da vida encenando um ato
Garotos de bermuda, camisa regata e sandália
Ali, nos bares, barrigudos sentados
Falando do futebol
Discutindo o tempo inteiro
Sobre quem o melhor goleiro
Quem é aquela mulher entristecida
Mal tratada e mal vestida
Em cada braço uma sacola
Tanto leva quanto busca
Os dois filhos na escola
E o marido onde é que anda
Na várzea jogando bola
Passa outra chorando
Encontrara o noivo
Com um homem se beijando
E aquele que dirige
Um automóvel do ano
Óculos escuros
Cara de big brother
Exibido e acelerando
A moça que se rebola
Num short que só tem cós
Diz ela que vem da faculdade
Onde está fazendo a pós
Aqueloutra sofrendo de depressão
Psicóloga graduada
Freud é seu tesão
Mas queria ser era outra
Uma atriz de televisão
Ah, que saudades eu tenho
Não só dos “bailes de outrora”
Mas também sinto falta
Das tardes de ladainhas
Procissão de Nossa Senhora
Não tem mais a senhorinha
A viúva, coitadinha
O marido morreu, que agonia
Ela também morria
Vestia roupas fechadas
Fizesse frio ou calor
Tecido leve
Florezinhas em preto e branco
No cabelo um cocó
Tinha sorriso de santa
Cantava de doer n’alma
“Sua vida, sua palma”
Para toda criança era avó
Os homens a respeitavam
Contava suas histórias
Muitas de derrotas
Poucas de vitórias
Fazia biscoitos doces
Cochilava a tarde inteira
Na cadeira de balanço
Pra lá e pra cá
Naquele gostoso remanso
Quanta saudade da professora Euflosina
Que visitava nossa casa
Na conversa do governo acreditava
Feita de patriotismo
Morreu inocente
Nunca soube do cinismo
Quanto mal fazia
Seu herói a toda gente
***
Com a honrosa participação da escritora ANITA D CAMBUIM:
É gente de todo tipo
e nós corremos o risco
de nunca saber quem é quem.
Estão todos misturados
por aí num vai e vem...