POEMA DIÁRIO
Um dia desses,
dilacerei minha consciência,
rasguei-a toda, em múltiplos pedaços,
em pequeníssimos pedaços cor de sangue.
E joguei-os dentro do meu coração!
Um dia desses,
ultrajei todo o meu corpo,
chaguei-o em grandes feridas vermelhas,
carne viva, sangue transbordante,
vida agonizante em grandes pedaços de pecado.
E joguei-os dentro do meu coração!
Um dia desses,
sufoquei o meu sentimento de amor e ódio,
afoguei-o em águas bem profundas, de lagos lamacentos,
triturei os meu pensamentos em grandes moinhos de longos e afiados
dentes,
transformando-os em minúsculos pedaços de idéias rotas e fétidas.
E joguei-os dentro do meu coração!
Um dia desses,
quebrei a minha rede de relacionamentos perniciosos,
desencantei bruxos e bruxas que perturbavam a minha pobre psique,
rolando, escada abaixo, os meus terríveis fantasmas que povoavam as
minhas noites
de infância, mocidade e vida adulta, morna e sem sentido.
Aterrei-os, junto com torrões de terra roxa travestida de pequenos
grãos.
E joguei-os dentro do meu coração!
Um dia desses,
encontrei Jesus na rua,
e entreguei-Lhe todos os pedaços que estavam dentro do meu co-
ração.
Ele os recebeu com grande misericórdia,
juntou-os, um a um, e soprou no mais profundo do meu ser o seu
amor e a sua piedade,
ordenou tudo em uma linda oração, mesmo uma canção, afável e doce
E jogou-os dentro do meu novo coração!