Aldabra
Eu queria não ter sentimentos
Para não sentir a dor dessa amargura.
Para não me sentir tão desmotivado a olhar de frente,
Esse maldito mundo que está a minha volta.
Vontade devastadora de não seguir adiante,
De me jogar diante de um poste, em um carro sem freios.
O meu corpo está desmoronado pelo horror que é a vida.
Pagando alto preço, por viver nesse mundo,
Olho o horizonte que se desmantela no infinito!...
E, compulsivamente, tenho piedade de mim
E dos que vivem assim como eu, no desencontro.
Oh! Mundo desencantado e seus sobreviventes!
Como continuar vivendo com esse horror que é a vida?
A vida e seus sobreviventes!...
Sou mutante e feito pétalas que se abrem,
Quiçá, daqui a pouco, sentirei menos melancolia.
Mas, por enquanto, quero que a angústia machuque ainda mais
As partes internas e externas do meu corpo.
Enquanto me comporto feito louco,
Escrevendo!...
Na desordem dos meus pensamentos,
Olho friamente a tudo que se passa
E tranco a porta,
Quero o isolamento!...
Deixo que meu ser seja devastado pela fúria do silêncio...
Não ligo rádio, não olho um quadro, não tomo banho.
Quero me sentir, cada vez mais, feito barro no atoleiro,
Enquanto imagino vitória-régia nas águas do oceano.
Meu ser é dado a contrastes de ódio e ternura.
E quando a parte mais pura se apura,
Me sinto em Aldabra.