Passagem para Outra Dimensão

Um rio e suas duas margens.

Um ponto na margem esquerda.

Abaixo, outro à direita.

O rio, a vida que passou.

Quando chegarmos à destra,

quantos passaram por nós

levados pela correnteza?

Quantas imagens ficaram no fundo?

Pessoas. Objetos. Cenas.

SUBMERSOS

Quando outros chegarem,

por quanto tempo ficaremos

seguros no ponto da margem direita?

É a correnteza que leva

e a cachoeira mais abaixo que nos espera:

passagem para outra dimensão.

L.L. Bcena, 20/09/2011

POEMA 521 - CADERNO: POEMAS AZUIS*

*Dedicado ao meu filho, Phill.

AZUL

Uma vanessa tropical travou na campânula

de uma ipoméia

o vôo oscilatório e helicoidal.

Dobra o quimono de franjas sinuosas,

marchetado e hachureado

com minérios de cobre:

aréolas, anéis, jóias concêntricas,

olhos de íris elétrica e de pupila enorme,

ocelos de um leque de pavão.

Sinto o perfume da flor nova,

com mais dois estames, buliçosos,

e quatro pétalas, de um esmalte raro,

molhadas nas tintas de céus fundos,

e cromadas com faiança das lagoas...

João Guimarães Rosa – in: MAGMA

PS- Phill,

observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).

Leonardo Lisbôa.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 19/12/2011
Código do texto: T3396756
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