Sacrifício
Ave posta na pedra
O leque do par de asas
Acima, o brilho da lâmina
E do carrasco a ameaça
Erguidos os braços
O nó das mãos promete
Firme no ar a exatidão do golpe
Em marcha o gesto fatal
Estremecem as asinhas inocentes
Da boca de um anjo os alvíssimos dentes
À aproximação do fio cortante
O Universo tem presa a respiração àquele instante
Cai da justiça eterna a venda
Contorcem-se sob a areia os esqueletos
Daqueles que foram viventes
Animais ferozes desconfiam
Nas selvas se embrenham
Sob as penas ton sur ton de uma elegia marrom
Protegem-se as rolinhas
A espada agora rente, iminente
Decepadas as asas
Rolam
Caem no batente
Há nos céus um clamor diferente
Sofrem montanhas
Murmuram de dor os rios entre as águas das correntes
Cachoeiras choram véus
Dias a fio
Separadas as partes ensanguentadas da pomba divina
Cumprem da Humanidade a sina
Espera do alto um sinal novo
Humílimo
Temente povo