Ah, como eu gostaria
Ah, como eu gostaria
de compreender os acontecimentos
de minha vida da perspectiva dos estóicos
filósofos! Enfatizar o aspecto da transitoriedade;
evitar absolutizar sofrimentos
e alegrias. Mas, parafraseando o poeta,
valeria então a pena?
Esperança, sem ti, filha dos deuses,
última reserva da fatídica caixa,
que seria dos homens?
És a consolação única,
morredouro alento de viveres,
aos quais nada mais conferir pode
coerência.
Esperança, todavia, são
ventos contraditórios, que velas
impulsionam, em nossas muitas e particulares
odisséias, sem fazer chegar
às paragens familiares. Seguimos sempre
estrangeiros, em naus emprestadas,
em existências que não sentimos
nossas.
Esperança, que nunca vamos entender:
primeiro, deusa;
depois despida da condição de ente,
mas ainda não da divindade;
secularizada, tomou forma de ideologias
mundanas, históricas utopias;
reduzida, por fim, à sua suposta
dimensão biológica.
Pertences ao domínio dos ininteligíveis
e impalpáveis.
Alcançar-te é perder-te.
Infeliz do ser
de que és inspiração
e tormento!