SONHOS SURRADOS.

Tem dias que a gente não sente

nem sabe o que partiu ou coalhou

a gente de enterrou de repente

como o que era gente secou

A gente que ter novas saídas

entender o que não aninhou

como se isso tivesse vez

como se isso fosse talvez.

A gente quer ancorar nos ossos de quem for,

a gente quer acordar cada fantoche fugido,

mas o tempo é voraz, falho, surrado,

e a cada vez mais se mostra pequeno.

Tem dias que a gente é poente

minguado naquilo que tem de maior,

como se fôssemos fraldas sujas de um desejo,

como se fôssemos o cuspe podre de um amor que voou.

Então o que é da gente sai da gente

o que poderia ser feliz fica feliz

o que deveria ser vivo se faz vivo.

Tem dias que a gente é distante

como quem não escuta sua própria dor

então vamos de volta para casa,

calados e desnudos em tudo que pudermos

para então recolhermos o que sobrou do amor surrado

para então desdobramos cada teço dessa pele encardida

para então desfazermos cada sono que deveria ter repousado em nós.

Foram tantos aqueles véus que rasgamos num bravata de fé,

foram tantas as manchas que deixamos sorrir nos delgados flertes de Maria,

foram tantos os gozos que nossos tumores não deixaram ir embora.

Então quem vier beber nessa fonte que traga seus copos vazios

quem vier cerzir as cicatrizes em mim que seja bem quisto,

quem vier ouvir as cabeçadas dessas meretrizes ensaboadas, que venham.

Porque o que estava tardio não se encarde mais,

o que estava enfartado que se empapuce de licor barato até a morte

o que estava gafanhoto agora é todo de Deus.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 16/12/2011
Código do texto: T3392208
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