Marca do Lobo
A ‘Marca do Lobo’ é danada.
Esquisito estigma.
Do esquizóide ao esquizofrênico
Costurado com pesponto.
É uma mancha incolor.
Cheia de dor.
Coisa que nos deixa sólidos
Como bloco férreo
(vontade cheia de força).
Como um icebergue
(nos faz frio como gelo).
Nos derrete ao menor calor da emoção.
Como um lobo raivoso,
Preferimos a solidão
E nos ferimos com a dor da matilha.
Chaga que nos larga na cama
E nos fecha no aposento.
Trancamos as janelas,
Chaveamos as portas
(até do coração),
No portão passamos corrente
(os elos não bastam
os integramos com ferrenhos cadeados).
Nos transformamos em ilha.
Nos isolamos no cume da montanha.
Nossa reza de cor
Rezamos nas contas de nossos ais.
Nosso mantra é o dó.
Nosso violão só toca dão-dão, dão-dão.
Só nos dão solidão.
E é tudo o quê nós queremos.
É etiqueta de família boa,
Que nos faz assinar Lisbôa.
L.L. Bcena, 16/09/2011
POEMA 517 - CADERNO: POEMAS AZUIS*
*Dedicado ao meu filho, Phill.
AZUL
Uma vanessa tropical travou na campânula
de uma ipoméia
o vôo oscilatório e helicoidal.
Dobra o quimono de franjas sinuosas,
marchetado e hachureado
com minérios de cobre:
aréolas, anéis, jóias concêntricas,
olhos de íris elétrica e de pupila enorme,
ocelos de um leque de pavão.
Sinto o perfume da flor nova,
com mais dois estames, buliçosos,
e quatro pétalas, de um esmalte raro,
molhadas nas tintas de céus fundos,
e cromadas com faiança das lagoas...
João Guimarães Rosa – in: MAGMA
PS- Phill,
observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).
Leonardo Lisbôa.