POEMA DO DESERTOR

Um orbe terrestre

Uma flor que se veste de Deus escorre mel

Uma andorinha que voa verde como folha leve se despe

Este mar imenso de astros que cintilam

Como enxames no céu

Esta noiva ornada de pérolas e constelações

Este véu de ovais protuberâncias este notívago ar

Estas ânsias que desabrocham nas lindas anciãs

Tantas substâncias que só a experiência sabe saciar

Este mar que navegamos

Sem saber aonde a nau chegamos

Tontas cirandas e quanta vontade de saber sob o firmamento

O que temos por conhecer se o finito arde no momento

Este eterno semblante de vida a passar

Uma valsa no barco que vai passando

Uma rima de ondas tantas coisas apagadas

Nas profundezas de meu mar

Um recolher das asas

Um rompimento dos hímens passageiros

Como barquinhos a vela

Que desconheço labirintos a se morrer

Amanheço sem saber

Em que pele minha sudorese escorre

Mas sei que tudo passa

Minha poesia escorre e baça

Um tempo é só o que me resta

Pra que eu exista enquanto minha vida passa

E me vista de terra adubada

Cantando tuas lembranças

Que comem as traças do que nada

Mais posso oferecer se não a madrugada

Se não o tempo em que perco

Por me perder dentro de mim

Dois rins e uma pedra

Neste jardim que fica entre Berlim e o outro em Moscou

Eis que seja chegado o fim do que a muito

Na linha do tempo se empedrou...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 15/12/2011
Reeditado em 15/12/2011
Código do texto: T3389723
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