POEMA DO DESERTOR
Um orbe terrestre
Uma flor que se veste de Deus escorre mel
Uma andorinha que voa verde como folha leve se despe
Este mar imenso de astros que cintilam
Como enxames no céu
Esta noiva ornada de pérolas e constelações
Este véu de ovais protuberâncias este notívago ar
Estas ânsias que desabrocham nas lindas anciãs
Tantas substâncias que só a experiência sabe saciar
Este mar que navegamos
Sem saber aonde a nau chegamos
Tontas cirandas e quanta vontade de saber sob o firmamento
O que temos por conhecer se o finito arde no momento
Este eterno semblante de vida a passar
Uma valsa no barco que vai passando
Uma rima de ondas tantas coisas apagadas
Nas profundezas de meu mar
Um recolher das asas
Um rompimento dos hímens passageiros
Como barquinhos a vela
Que desconheço labirintos a se morrer
Amanheço sem saber
Em que pele minha sudorese escorre
Mas sei que tudo passa
Minha poesia escorre e baça
Um tempo é só o que me resta
Pra que eu exista enquanto minha vida passa
E me vista de terra adubada
Cantando tuas lembranças
Que comem as traças do que nada
Mais posso oferecer se não a madrugada
Se não o tempo em que perco
Por me perder dentro de mim
Dois rins e uma pedra
Neste jardim que fica entre Berlim e o outro em Moscou
Eis que seja chegado o fim do que a muito
Na linha do tempo se empedrou...