Qualidade de vida (Ou Diário da loucura quotidiana).
De um sobressalto
Saltava para fora
Da cama, atrasado
E nem enxergava
O Sol que raiava...
O café da manhã
Era um mero ritual
Preparado pela esposa
E ele não percebia as flores
Que desabrocharam no jardim.
Enfrentava o trânsito louco,
Brigando com o semáforo
Digladiando com o tempo
E nem dava acordo
Dos pássaros que cantavam.
Chegou ao trabalho correndo
Para enfrentar o sermão
Humilhante do patrão
Sem notar que as borboletas
Voavam serelepes na casa ao lado.
Digitava uma pilha imensa
De relatórios-formulários
De modelos preconcebidos,
Ignorando a abelha que passava
Por ele em direção à colméia.
Terminava o expediente
E ele com a sensação de dever
Cumprido voltava para casa
De olhos fechados ao Sol
Que morria à sua frente.
E se dizia um indivíduo feliz,
De futuro promissor,
Pois só queria qualidade de vida,
Sem perceber que a natureza
Nos ensina, em detalhes, como tê-la.
(Danclads Lins de Andrade).