O peso do tempo...
"A felicidade é uma borboleta que, quando você persegue, sempre está mais longe do seu alcance. Mas que, se você se senta e fica quieto uns momentos, pode ser que pouse em seu ombro."
Hawthorne, Nathaniel
Acocoraram-se sobre meus ombros
os meus quarenta e tantos anos.
Não é costume senti-los, mas
como pesam de vez em quando!
Ninguém me avisou.
Nem minha mãe, nem meu pai
falaram-me do peso que tem o tempo.
Não existe balança que o saiba pesar:
dói no corpo, dói na alma,
dói até na calma
das minhas omissões...
Deve ser saudades e vontades
acumuladas neste fardo da vida.
É pelas minhas veias que se escondem,
dissimulam-se em mim, feito vermes malditos.
Para as saudades e as vontades
jamais rezei terços.
Sempre as tratei com desleixo e abuso.
Agora, se vingam cruelmente de mim.
Cresceram por elas mesmas,
sem que eu pedisse.
Quem as plantaram foi o tempo.
Alimentaram-se da chuva dos meus desacertos.
Do calor e alegria da minha vida, se um dia houver, tostarão.
Passaram tantas primaveras
que nem me dei conta
que já andei mais da
metade da minha vida.
Agora eu sei sobre este peso nos lombos.
Foram tantas manhãs quentes
e noites frias que passei a meditar.
Tantas coisas observei que
me diziam sobre poesias,
eu, teimoso, as avoquei,
algumas ouviram e vieram,
outras jamais nasceram,
viraram cargas e postaram-se sobre os meus dorsos.
Noutras horas elas levitam equilibrando-se na alegria
de quem lê os meus poemas pelo andar do tempo...