SAPATOS
Meus sapatos gritam
um grito de beira de cama, de abismo
aberto e franco
branco, preto ou amarelo ouro
dependendo do tipo de couro.
O tênis boquiaberto
não sei se ri ou morre asfixiado,
pois não tem olhos,
garganta à mostra,
língua esticada de enforcado.
O par de saltos altos
em dueto, interpretam ópera
silenciosa.
Sempre aos pares
os mesmos gritos no quarto
acordando os meus íntimos conflitos
no despertar
em trabalho de parto
da manhã.