“Cordeiros”
Autora: Fernanda Illipronti
Como eles podem ser tão duros.
Eles dizem mentiras, pensando verdades.
Por que eles não olham para si mesmos?
Eles cobram de nós, um ser maduro,
por mais que nos custe a liberdade,
se isso é liberdade, que temos.
Nossos quartos tem grades de aço.
Também nos tomaram nossa respiração.
Nós sabemos que eles não podem.
Tentamos lutar, mas quem vence é o cansaço
e depois imploramos o perdão.
O perdão só vem se eles quiserem.
Eu queria ser livre para voar,
mas nossas asas foram cortadas
por pessoas que não têm amor próprio,
não tem sensibilidade para amar,
e nunca foram amadas.
Se escondem atrás de um copo de vinho sóbrio
pensando que nunca se embebedarão.
Que nunca erram o alvo móvel,
que somos nós, marcados como gado novo,
nos entregam para que o nosso sangue bebam,
do gosto mais doce que mel,
e não é só o meu, é o do nosso povo.
As nossas almas, param e esperam
pelos novos cordeiros com medo,
que vão seguindo um a um até a porta,
aberta por um grande homem.
Lá os nossos sonhos não se cortam,
lá todos nós podemos falar:
Amém!
Fernanda Illipronti, São Paulo, 2001