O Deus Dentro de Mim

Dormi submerso em lago

de losna.

Despertei com o Eu

dizendo:

“Chega de morrer.

Então vamos...

...então vamos.”

Estava emperrado por ferrugem

que já carcomia a carne férrea.

Estava embaralhado por limo

que envolvia a matéria bruta.

Estava envolto por cracas

que sugavam a matéria orgânica.

Foi então que dentro de mim o deus

desfez todo empecilho dando-me forças.

Saí da cama.

Ainda há energia em minha Central.

L.L. Bcena, 14/09/2011

POEMA 507 - CADERNO: POEMAS AZUIS*

*Dedicado ao meu filho, Phill.

AZUL

Uma vanessa tropical travou na campânula

de uma ipoméia

o vôo oscilatório e helicoidal.

Dobra o quimono de franjas sinuosas,

marchetado e hachureado

com minérios de cobre:

aréolas, anéis, jóias concêntricas,

olhos de íris elétrica e de pupila enorme,

ocelos de um leque de pavão.

Sinto o perfume da flor nova,

com mais dois estames, buliçosos,

e quatro pétalas, de um esmalte raro,

molhadas nas tintas de céus fundos,

e cromadas com faiança das lagoas...

João Guimarães Rosa – in: MAGMA

PS- Phill,

observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).

Leonardo Lisbôa.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 09/12/2011
Código do texto: T3380590
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