Suposta morte de um poeta

Há quanto tempo eu não escrevo nada!...

As minhas coisas,

O meus papéis,

Cobertos de poeira.

O "Chão sem teto", (esboço do meu primeiro livro)

Está emprestado e eu sinto falta dele,

Como Mãe e Pai, sentem falta de filho ausente.

Escrevo no mesmo quarto, que parece ser outro.

O que ficou do quarto de antes, foi o chão,

As janelas e as paredes...

Mudei os móveis, os quadros, os discos e a cor das paredes e,

Com essa mudança, me modifiquei também.

Por dentro, não me modifiquei nada...

Sou a mesma pessoa, dando gargalhadas da vida...

Gosto de sorrir, quando dá vontade.

Gosto de mentir, por necessidade.

Gosto de amar, porque é preciso.

Amar, para mim é o princípio de tudo!

Há pouco tempo, amei muito.

Agora, não sei... Acho que estou degastado.

Dei tanto de mim que me sinto fraco,

Recebi tanto que me sinto forte (que paradoxo!).

Às vezes sinto frio e me agasalho.

Mas é um frio n'alma, de respiração ofegante!

Então, eu bebo. Eu bebo de tudo,

Até que o álcool me aqueça... e ele me aquece!

Eu durmo, quentinho, como um pão saindo do forno.

Quentinho e quietinho feito um anjo.

Desperto: distante, distante...

Como se a cama estivesse longe de mim...

Às vezes, eu sou um trovão em tempestade.

As vezes, eu sou calor de um dia de verão.

As vezes, eu sou uma madrugada fria, fria...

As vezes, eu quero ser tudo, as vezes ser nada!

As vezes, quero mãos me fazendo carinhos;

Por outras, mãos me batendo em cheio

E tudo isso que é tanto, resta-me pouco...

As vezes, eu me sinto e quero me sentir mais ainda!

Mais ainda, como se máximo não existisse,

Como se o máximo fosse pequeno,

Como se a maré fosse enchendo,

Molhando os meus pés, subindo, subindo

E eu acordasse, molhado de suor.

É outro dia,

(faz de conta que é outro dia,

Porque eu não dormi ainda.

Eu apenas cochilei, escrevendo.

Faz de conta que o dia está amanhecendo.)

Sem cheiro de óleo, de mecânica e de graxa,

Faz de conta que o sol está nascendo

Lá atrás dos montes,

Que as buzinas dos carros

Não estragam a beleza do silêncio.

Faz de conta que não existes;

Que estás existindo agora...

Que estou fazendo-te um café,

Que me queres, como eu te quero.

Faz de conta que chegaste

Sabendo o que queres...

Que queres me ouvir, porque é necessário;

Que queres viver, porque é preciso;

Que queres me amar, por predestinação.

Faz de conta que chegaste, por intuição.

Me olhaste, me sentiste e me pediste perdão.

Puxa! Morri de felicidade...

Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 07/12/2011
Código do texto: T3375815