Memória da pele
Acordei de madrugada,
Bebi um copo d'água,
Acendi a luz e perdi o sono.
Liguei o ar refrigerado
E peguei na gaveta do armário,
Um moletom usado.
Engraçado como roupa usada,
Lembra a pessoa amada no passado.
Por mais que ela tenha me maltratado,
Por mais que ela tenha me machucado,
Por mais que ela tenha me ofendido,
Por mais que ela tenha me amado,
Por mais que ela tenha me traído...
Roupa usada, me lembra a pessoa amada no passado.
Pensei nas coisas boas.
Naquele abraço apertado,
Naquele bom dia, gostoso,
Naqueles beijos de língua
Atravessando o tempo,
Deixando a boca dormente,
Doente e sadia de amor.
Depois de uma briga,
A gente sempre transava.
No banheiro, debaixo do chuveiro,
No chão da cozinha, no sofá da sala,
Atrás da geladeira, e é claro, na cama também.
O sono foi embora e a dor de agora são de lembranças.
E o que fazer quando elas vem?
Como apagar da nossa mente,
O que está presente, na memória da pele
E lutando contra o esquecimento.
Eu lamento, mas não quero mais lembrar.
Acho que a saudade foi invenção da minha alma em agonia
E da minha vontade de tragar pra dentro de mim,
O que sempre me alivia
quem nunca me ofende
Quem sempre me defende
Quem só me compreende
Quem nunca me judia
É o meu orgulho
A minha alegria
É a minha emoção
É quem me salva da solidão
E a minha semântica
É uma necessidade orgânica
É quem me faz resussitar
É quem não me deixa naufragar
É quem me cura da gripe
É a minha Afrodite
É quem torna tudo possível
E faz de mim uma celebridade invisível
A minha poesia.