DESPEDIDA
DESPEDIDA
Olá amor
Esta é a última carta que te escrevo
Embora pareça estranho
Ainda me apetece chamar-te Meu Amor
Ainda me atrevo…
Afinal sempre te tratei assim
E ainda te mantenho
Tão viva dentro de mim
Esta é a última carta que te escrevo
O último adeus…
A despedida…
Não tem nenhum sentido
Sem ti a minha vida
Há muitos anos que o sol
Não aquece os nossos beijos
A lua há muito que deixou
De iluminar os nossos desejos
Puros e nus deitados na fímbria da areia
Há quantos anos tu não passas de uma ideia?
Podem dizer que é loucura
Mas a ternura com que beijava
Os teus ternos olhos fechados
A doçura de lamber a sobrancelha
E sentir-te arrepiada
A candura da mordida
Do lóbulo da orelha…
A aventura de descer o teu pescoço
Beijar-te a nuca
E sentir a língua maluca
A escalar-te os seios…
As minhas mãos não tinham dedos
Eram apenas devaneios
A desvendar os teus segredos
Depois descia aos degredos
Da prisão das tuas coxas
Pressão total
E o animal que há em mim
Furava todas as rochas
Em estado puro e natural
E nunca havia final
Podem dizer que é loucura
Mas não havia nenhuma meta
Tudo podia acontecer
Na vida íntima e secreta
Esta é a última carta que te escrevo
Não me atrevo a dizer
Que a cidade morreu
Não me atrevo a dizer
Que o meu neto cresceu
O meu neto, o neto que não é teu!
Não me atrevo a dizer
Que a cidade existe
Que a cidade sempre existiu
Porque sem ti é tudo triste
Até o meu coração dormiu
Esta é a última carta que te escrevo
E como tenho a certeza que não vais ler
Posso continuar a ser louco
As vezes que me apetecer
E continuar a sentir-te nua
Sempre que achar que é pouco
Cada vez que amanhecer
Esta é a última carta que te escrevo
O último adeus…
A despedida…
O último elo da teia
Adeus minha querida
Há quantos anos tu não passas de uma ideia?