O entardecer

Sutil, a tarde se vai...

E todos os dias se vai sutilmente...

Por mais que eu não queira, a tarde se vai.

Por mais que eu queira, a tarde se vai.

O que adianta eu querer, ou não, certas coisas?

Por isso eu não quero nada...

Quero que as coisas aconteçam.

Todos os dias, passo pela mesma rua,

Quando a tarde se vai...

E ela se vai, todos os dias,

Quando eu passo por aquela mesma rua.

Não sei se sou pontual

Ou se a tarde se vai, pontualmente....

Os postes se iluminam,

Os letreiros se acendem,

Os comerciantes fecham as lojas,

As meretrizes saem às ruas...

Como se o cair da tarde

Fosse o relógio de se marcar a hora

Para se fazer certas coisas...

Aumenta-se, pontualmente, a frequência nos bares,

O refrigerante deixa de ser o preferido,

Para dar lugar à cerveja, ao conhaque, à cachaça,

como se fosse necessário beber, ao cair da tarde.

Se eu pudesse ser um dia,

Manhã, tarde e noite,

Só manhã eu não seria,

Porque gosto de acordar tarde...

Portanto é preciso saber que eu, como pessoa,

Posso ser manhã,

Quando acordo cedo, para estar com ela...

Porque eu, estando com ela,

Torno-me parte dela.

Deve ser gostosa, a sensação de sentir-se manhã

E eu vou aproveitar amanhã,

Para sentir essa sensação...

E as tardes passam,

Como passam as pessoas.

Só que as tardes eu tenho sempre,

Sempre à tarde. As pessoas, dificilmente...

Não sei porque é tão difícil,

Se as pessoas são tantas

E as tardes, uma só...

E agora, nesse poema

Que eu escrevo da tarde,

A tarde se foi, querendo

E eu, querendo a tarde.

Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 04/12/2011
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