O entardecer
Sutil, a tarde se vai...
E todos os dias se vai sutilmente...
Por mais que eu não queira, a tarde se vai.
Por mais que eu queira, a tarde se vai.
O que adianta eu querer, ou não, certas coisas?
Por isso eu não quero nada...
Quero que as coisas aconteçam.
Todos os dias, passo pela mesma rua,
Quando a tarde se vai...
E ela se vai, todos os dias,
Quando eu passo por aquela mesma rua.
Não sei se sou pontual
Ou se a tarde se vai, pontualmente....
Os postes se iluminam,
Os letreiros se acendem,
Os comerciantes fecham as lojas,
As meretrizes saem às ruas...
Como se o cair da tarde
Fosse o relógio de se marcar a hora
Para se fazer certas coisas...
Aumenta-se, pontualmente, a frequência nos bares,
O refrigerante deixa de ser o preferido,
Para dar lugar à cerveja, ao conhaque, à cachaça,
como se fosse necessário beber, ao cair da tarde.
Se eu pudesse ser um dia,
Manhã, tarde e noite,
Só manhã eu não seria,
Porque gosto de acordar tarde...
Portanto é preciso saber que eu, como pessoa,
Posso ser manhã,
Quando acordo cedo, para estar com ela...
Porque eu, estando com ela,
Torno-me parte dela.
Deve ser gostosa, a sensação de sentir-se manhã
E eu vou aproveitar amanhã,
Para sentir essa sensação...
E as tardes passam,
Como passam as pessoas.
Só que as tardes eu tenho sempre,
Sempre à tarde. As pessoas, dificilmente...
Não sei porque é tão difícil,
Se as pessoas são tantas
E as tardes, uma só...
E agora, nesse poema
Que eu escrevo da tarde,
A tarde se foi, querendo
E eu, querendo a tarde.