MUDO

MUDO

Deixem-me pintar as manhãs de espanto

Enquanto

Se não perde o encanto

Do verde, do anil,

Do vermelho, do salmão...

Do azul, do turquesa

De todos os perfumes

Com que pinto a natureza

Deixem-me ser apenas coração

Mentiroso, trapalhão,

Quantas vezes vigarista,

Mas sempre pai do irmão,

Amigo do inimigo,

Um braço não é só mão...

É o pedaço de espaço

Entre a culpa e o perdão

Deixem-me aqui no canto

Que já não canto

Há tanto tempo

Deixem-me pintar o momento

Da cor que me apetecer

Às vezes sou cinzento

Corrosivo, ciumento,

Outras fico tão doído...

Nunca se revela tudo

E às vezes é tão duro respirar

Que até o gosto

Do teu rosto

Me faz arrepiar

Deixem-me ser mudo

Não me apetece falar

Já estou doido

E disse tudo...

ressoa
Enviado por ressoa em 13/07/2005
Código do texto: T33692