O inferno perdoado
O inferno comeu a metade do teu mundo
A outra metade ardeu apenas no infortúnio.
Algumas lembranças servirão de protesto
Para emoções sem vida, sem afeto.
Tua casa não é tua. Toda abstração, fortuna.
Todos os fracassos teu nome, que não amo.
No testamento da tua angústia, cancro leviano.
Deus inexistente efetua cálculos fiéis em juros.
Na casa onde mora a sua mãe, velha e mesquinha.
Tão mesquinha que esconde a fortuna em orações
Para disfarçar a vida dentro da minha.
O demônio esculpido, injustiçado, malsoante.
Pendente na gigantologia da histeria crente.
Desfila em romaria psicótica nutrificante,
Pela imaginação que é tola, onipresente.
Tem do inferno o hálito ardente das meretrizes doces
A incivilidade na terra em que mais brotam igrejas.
Verdade com pele de mentira que vai longe
Escorrem putrefeitas da perna do indigente.
Mente que a oração te cura, alienada testemunha.
Que a repetição hipnótica é lentejoulante, penitente.
Veste-se de alma dissimulando o ator imundo:
...Lesa-divindade quem de fato amar o mundo.