O inferno perdoado

O inferno comeu a metade do teu mundo

A outra metade ardeu apenas no infortúnio.

Algumas lembranças servirão de protesto

Para emoções sem vida, sem afeto.

Tua casa não é tua. Toda abstração, fortuna.

Todos os fracassos teu nome, que não amo.

No testamento da tua angústia, cancro leviano.

Deus inexistente efetua cálculos fiéis em juros.

Na casa onde mora a sua mãe, velha e mesquinha.

Tão mesquinha que esconde a fortuna em orações

Para disfarçar a vida dentro da minha.

O demônio esculpido, injustiçado, malsoante.

Pendente na gigantologia da histeria crente.

Desfila em romaria psicótica nutrificante,

Pela imaginação que é tola, onipresente.

Tem do inferno o hálito ardente das meretrizes doces

A incivilidade na terra em que mais brotam igrejas.

Verdade com pele de mentira que vai longe

Escorrem putrefeitas da perna do indigente.

Mente que a oração te cura, alienada testemunha.

Que a repetição hipnótica é lentejoulante, penitente.

Veste-se de alma dissimulando o ator imundo:

...Lesa-divindade quem de fato amar o mundo.

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 02/12/2011
Código do texto: T3369146
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