A POESIA DA VIDA É O NADA !
FIZ UMA PEQUENA VIAGEM SENTIMENTAL.
CONSTRUÇÕES E REMINISCENCIAS DA MINHA ADOLESCÊNCIA.
CONSTATEI A POESIA DO NADA.
ESSE NADA DA POESIA É PALPÁVEL AOS OLHOS.
CALA PROFUNDO. E MOLHA O CONCRETO, PENSADO ÁRIDO
ABSORVIDO, PELA ARQUITETURA DA ALMA.
PÕE-SE A RESCONSTRUIR TODOS OS FRAGMENTOS.
AQUELES SUTIS ENTERNECIMENTOS. PERMEÁVEIS.
QUE NOS EXPLICA, COMO UM CARTAZ DE CINEMA.
CRUZEI COM O TEMPO E O VI COM AS VESTES DA MÃE.
VESTIDO DE NEGRO E COM A FOICE DA MORTE.
AM HEU DEUS! SE EU ESCOLHESSE A INFANCIA.
TERIA SIDO MAIS TRISTE E CRUEL, ESTA PEQUENA VIAGEM...
TALVEZ AMENIZADA, POR NÃO MAIS RECONHECER.
AQUELAS FACES MORTAS E RISONHAS DO CÉU.
NADA FICA. TUDO PASSA.
POUCAS COISAS PERMANECEM. AINDA QUE NOS ENTERNEÇAM.
O QUE VEM É IMPERATIMENTE NOVO.
SEM A OBRIGAÇÃO NENHUMA DE ENTRELAÇAR-NOS.
ENVOLVER-NOS. E ABRAÇAR-NOS!
O TEMPO DANDO NOS SUCESSIVOS CHOQUES.
PARA QUE MATEMOS DENTRO DE NÓS O QUE RESTA.
DE POESIA, NOSTALGIA OU SAUDADES....
DE MAQUINAÇÕES, IMPLEMENTAÇÕES OU CONSPIRAÇÕES.
CONSTITUI UMA VAIDADE, ENVELHECER E MORRER,
A RIMA FINAL DA POESIA DO NADA.
NASCER, A GRANDE POESIA DA ILUSÃO.
VIVER, A GRANDE POESIA DA QUIMERA DESCONHECIDA.
COMO SE FOSSEM TAMBÉM PESSOAS.
AS CASAS E PAISAGENS ADOECEM. E DEPOIS MORREM.
ABISMOS DA MODERNIDADE.
SOMEM FAMILIAS INTEIRAS. E FICAM OS ASFALTOS.
RESTAM AS CASAS ABANDONADAS DE ALMAS.
SANGRAM CORTIÇOS.
FORMA MACABRA DE SOBREVIVÊNCIA DAS CASAS
DESTINO DE SONHOS ANTES TÃO LINDOS....
HABITANTES DA TERRA, FINDOS...
OU FINDAM-SE AS CONSTRUÇÕES NA POESIA DO NADA.
O GALOPE DO PROGRESSO ESBOFETEANDO A VIDA.
EU VI A INEXISTENCIA COMO PLACA DE TRÂNSITO.
A PEQUENA ADEGA SÃO JORGE VIROU O BAR DA AVENIDA.
RESPIREI ENTÃO MEUS PERFUMES ANTIGOS.
MAS O SEI, E FOI ANTES ASSIM, POR POUCO TEMPO.
MORREU A PANIFICADORA FLUMINENSE.
SOBRE A SUA CAMPA, ERGUERAM UM POSTO DE GASOLINA.
UM VAZIO FRIO A UMA PAISAGEM DA MINHA VIDA.
DE NOVO, OS CHOQUES ELETRICOS DO TEMPO.
DE IMPOTENCIA E DE IMPOSSIBLIDADES.
TRAZER O PASSADO DE VOLTA, PARA QUÊ ?
PASSAM A MULHER NOVA E A CRIANÇA....
SÃO AS NOVAS POESIAS DA PAISAGEM E DO CENÁRIO.
UM LETREIRO ANUNCIA O NOVO EDIFICIO.
EDIFICIOS SÃO MAIS DURADOUROS...
MEU PASSEIO VAI TERMINANDO.
MEIO ATURIDO PELA POESIA DO NADA E DA RESIGNAÇÃO.
GRATO A DEUS E INGRATO A DEUS.
PELA POESIA QUE SOU DA SUA DIVINA CRIAÇÃO.
SENSAÇÃO DE CANÇÃO, COM AS ASAS DA LIBERDADE.
SENSAÇÃO DE PRODUTO COM TEMPO DE VALIDADE.
O TEMPO CERCA-ME E EU ME DISFARÇO DE FELICIDADE.
AINDA QUE SUTIL, HÁ DENTRO DE MIM....
UMA ETERNIDADE ILIMITADA.
TALVEZ A MELHOR POESIA NÃO SEJA A POESIA DO NADA.
A POESIA DO DESCANSO.
VEM NOVAMENTE A MOÇA COM O FILHO PEQUENO.
A BRISA TOCA DOCEMENTE AS FOLHAS DA ÁRVORE.
MAURICIO DE AZEVEDO
PEQUENA JANELA PARA UMA RAZÃO POÉTICA.