Gotas de orvalho
Vou me largar no mundo...
Feito larva que se desprende do útero materno,
Assim que descobre a luz do dia.
Sairei sem vigia e sem rancor e sem pudor
E me atirarei no mundo, feito inseto sem asas,
Perambulando pelos guetos.
Quero ser desprendido de objetos e coisas
E ser infinito feito céu onde sobrevoam gaivotas.
Quero ser pedra consumida pelo mar da natureza
E ser nuvem flutuando no ar.
Ser poeta reconhecido, ainda vivo!...
E saborear a cumplicidade no brilho dos olhos
Daqueles que leem a poesia que sai de mim,
Feito gotas de orvalho.
Ser amado, por olhos que nunca me viram.
Ser tocado por mãos que nunca me tocaram.
Ser possuído.
Ser sentido, para não me sentir,
Um pobre réptil-inútil e desgraçado.
Mas a flor tem o dia certo do desabrochar
E enquanto as pétalas se arrumam,
Enquanto a folha não cai no esquecimento,
Enquanto o vento não traz o cheiro da maresia,
A minha poesia ocupa um lugar que será sempre dela, por direito.