Matemática da voz

E a voz sem palavra

está na boca das coisas.

Sinos, sirenes, sanfonas.

Mas a palavra sem voz

anda a sós com os gestos,

em manifestos mudos de amor.

Na matemática da voz

é que se faz o som.

E quem de nós saberia

tal geografia do dom?

Sei sim das janelas,

sei do gemido delas,

sei que panelas apitam

no fogo que as excitam.

Ronca sim motor cansado

no desmaio proletário.

Perdulário o pernilongo

gasta todo o zumbizado.

E a voz sem ouvido

está no perigo da morte.

Penhasco, palanque, presídio.

Mas o ouvido sem voz

dorme algoz de si mesmo,

ermo, enfermo de silêncio.

Na história da voz

é que se faz história

e quem de nós saberia

tal filosofia assim finória?

Sei sim dos mártires

sei do grito libertário,

sei que a idade dos livros

só contenta o antiquário.

Tomba sim corpo falido

na alcova de redenção.

Quem virá te buscar pelo pé

ou irá te levar pela mão?

E a voz sem ela também é pó.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 04/01/2007
Código do texto: T336748
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