PENSAMENTOS BÊBADOS

Eu bebo poesia

Em certas fontes díspares

No movimento das borboletas

E no escuro do casulo

Eu engulo seco

E me aperreio sempre com intrigas

Eu como poesia com farinha

No dia-a-dia

E na entrelinha

Tenho pensamentos trôpegos

Mas nada me vem por acaso

Às vezes escassos

Noutras em torrentes

Meu pensamento é como um alimento

Um leite, deleite, uma linha curva

Serpente

Eu bebo poesia

Na alegria e na ausência

No amor, que a tudo ameniza

E nos deixa bambos

Bobos

A clarivência é evidente, às vezes

Acho que brisa é uma boa rima

Mas disso não dependo

A poesia

É só um jeito estranho

Tentativa de dizer o que não interessa muito

Mas me interessa tanto

Coisas que não acontecem

Movimentos transversais

Translúcidos

Fissuras do lúcido

De repente num flash: pronto

Ou quase