O samba chorou no outro dia
Por Abílio Machado. 18042011.
Quando apontou a idade
Entremeio de rebelde e desapegado
O samba em caricatas donzelas
Adolescente desassossegado
Mandingueiro e sem maldade
Se fez presente num vestido quase curto
Nas pernas compridas de zagüeiro do time de fé
O pobre moço não sabia
Que sua aventura teria uma outra vista
Olho de quem viu seu corpo de menino sambar
Sob a sandália emprestada, prateada
Depois da passagem do seu bloco
Acordou da travessura no sufoco
Se viu só na sua tristeza de odalisca
Se viu tomando o resto da bebida
Sentado ali, meio fio, concreto frio.
O único sorriso que ganhou
Era homem e lhe estendeu a mão
Puxou-o para si e ofereceu um abraço
Carregou entre os devassos
Se fez escondido com ele no banco de um carro
Mais dois se apertaram
Não muito longe, a tapera abandonada
Ninguém ouviu ali, grito surdo
Abaé e eté gritou como louco
Na violência e luxúria
A curra foi não uma, foi pra mais de seis
Teve que antes na mistura sambar na mesinha
Pagar de cinta liga e calcinha
E depois implorar para morrer...
Torturado, estuprado
Ao lhe acharem ensangüentado
Havia uma lágrima ainda na face
A noite de outro dia chegava
Uma tarde a esmorecer...
A foto ficou linda no jornal
E sua figura de dor saiu estampada na última página
Na primeira saiu o bloco, passistas e mulatas
Quase peladas, ele não, no jornal...
Edição nacional...