EU
EU
Eu
sou esta inutilidade
que se lê em cada rima
esta coisa nenhuma
que não presta,
esta aresta, esta esquina,
que não dobra
esta mania
de envolver a poesia
em névoa ou bruma...
Eu,
que nem tenho a certeza
de ser Homem,
e às vezes penso que sou Deus,
minto com todas as palavras que conheço,
e chego até a inventar
as que desconheço,
apenas para chatear
alguns ateus
e outros infelizes,
que aparecem no caminho
a complicar a vida,
escondendo os seus deslizes
Eu
sou ave
só com uma asa
e teimo inutilmente
em querer voar...
Nunca me atingiram em cheio
os tiros que levei
acertaram sempre no mesmo meio
de mim e sempre me levantei...
Eu
sou o insucesso
o resultado do meu excesso
de querer ser...
sou só parte
do que me deram ao nascer
Eu
sou a metade
involuntária
da minha solidão...
Eu
sou a metade
da canção que nunca te cantei
da qual apenas sei
a parte que escrevi
a outra parte
é o silêncio que te dei
e que senti
Eu
sou a contradição
latente
entre esta asa que voou
e a outra que tombou
no chão
carente
Eu
Sou...
sei eu
a coisa mais bonita
que me aconteceu
e só a mim podia acontecer
amar...
amar
apenas por viver
Eu
sou esta coisa fútil
que a vida transformou
e sente que escrever...
ainda é til