EU

EU

Eu

sou esta inutilidade

que se lê em cada rima

esta coisa nenhuma

que não presta,

esta aresta, esta esquina,

que não dobra

esta mania

de envolver a poesia

em névoa ou bruma...

Eu,

que nem tenho a certeza

de ser Homem,

e às vezes penso que sou Deus,

minto com todas as palavras que conheço,

e chego até a inventar

as que desconheço,

apenas para chatear

alguns ateus

e outros infelizes,

que aparecem no caminho

a complicar a vida,

escondendo os seus deslizes

Eu

sou ave

só com uma asa

e teimo inutilmente

em querer voar...

Nunca me atingiram em cheio

os tiros que levei

acertaram sempre no mesmo meio

de mim e sempre me levantei...

Eu

sou o insucesso

o resultado do meu excesso

de querer ser...

sou só parte

do que me deram ao nascer

Eu

sou a metade

involuntária

da minha solidão...

Eu

sou a metade

da canção que nunca te cantei

da qual apenas sei

a parte que escrevi

a outra parte

é o silêncio que te dei

e que senti

Eu

sou a contradição

latente

entre esta asa que voou

e a outra que tombou

no chão

carente

Eu

Sou...

sei eu

a coisa mais bonita

que me aconteceu

e só a mim podia acontecer

amar...

amar

apenas por viver

Eu

sou esta coisa fútil

que a vida transformou

e sente que escrever...

ainda é til

ressoa
Enviado por ressoa em 13/07/2005
Código do texto: T33669