Companheiro
Existe um vazio em mim
um vazio que nada preenche
nem o amor, a luxúria
o devaneio ou a razão
Nada pode contê-lo
nem estes versos tolos
ou o nobre ofício
o vazio segue corrosivo
Talvez isso
Talvez tudo foi consumido
pelo maldito e poderoso
vazio
A linha tênue e eterna do destino
o não-saber onde vai
o ventre seco
a loucura
Destes tantos que foram
apenas um poderia salvar-me
o amor, ridículo e falho amor
belo e indispensável amor
Mas se ainda há amor
chega o vazio e lança-o longe
resta-me a dor e a perda
resta o vazio
Então faz-me compania
já que só tenho a ti
ou de vez me consome
para que enfim tenha eu descanso.