Terracota amphora (jar)
Amphora, ca .490 BC.
late Archaic
The Metropolitan Museum of Art, New York, USA
 56.171.38

                         ALCOVA


       
Há quantos séculos dormes  tu, óh ânfora?
       
e tantos outros, já disse Khayyam
       terás que dormir...
      tu que te guardas ao  mêdo
      no tempo das rosas
      e entre os canteiros áridos
      de bocas intumescidas de larvas
     teces a urdidura entre os grãos.
     Rios e tempos de sóis se embriagam,
     se embevecem , se fartam, 
     se furtam uns e outros ,
     e mesmo assim tu, ânfora,
     guardas  tuas medidas de azeite, linho,
    e zênite!
   - Porque o sono que te habita
     na alcova sobre a terra,
     te habitará  dentro e ao regaço dela,
    como te habita o silêncio,
    o vale e o ventre de tuas mortes,
   como te habita a boca sequiosa
   que geme sobre o cálice,
   enquanto tu dormes e
   rasgam-se caminhos...
   Mas, a aurora sedenta 
   cinzelou-te os lírios, o enrêdo,
  o  mêdo e os teus cabelos!
   

 www.lilianreinhardt.prosaeverso.net