Paraíso sem cidade
São plantas nossas atenções
Pacificadas sobretudo
No estúdio floral das emoções
Fixadas no solo como cacto
Que ainda vive
Mesmo desligado da terra seca
Sem ternura.
São plantas as tardes voltadas para o sol
Tendo em vista a varanda
E o quadro olhitauro onde habitam almas
Na respiração resplandecente.
São plantas finas e verdes
A casa das efemérides voadeiras
Confundindo-se na grama
Com a indulgente alegria
Das cores disponíveis
Para desenhar sem pensar
A primeira saudade imortal
Que o vazio abriga.
É planta a mãe da idolatria
Nas sensações que revelam
O quanto permanece cada jasmim reinando
Sobre a luz olorosa do encanto
Cobrindo o percurso iluminado.
A seiva flutiflora como sangue
Na nutrição vegetal do alimento fecundo imediato
Onde guarda ainda algum tempo
Para pincelar a festança primaveril dos jardins
Da mais perfeita beleza vulgar
Na flor em pérola orvalhada
Eclodida no exato instante
Onde só habita a perfeição
Na carne da geografia imaginável.