O ÚLTIMO ACORDE

A palavra engasgada
O olhar vazio
A face pálida
A flor despetalada
A terra árida
O árduo ofício
Chamado vida
O corpo sem amor
O lamento da fonte
O abismo sem ponte
O desvario
A alma invadida
                       Por
Um tenso afã
De voar...
De se libertar
Do tom fosco
Do sufoco
Do oco
Do não
Da interrogação
"O que será que será"
"Será só imaginação"
            ?
As asas abertas
O gesto mudo
Do último acorde
O absurdo?
A dor que explode
Levando tudo
Em roldão
E uma deserta
Concreta impressão
Que o amanhã
                     Não virá.


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E se o amanhã não vier
Pouco ou nada me importa
 Apenas não quero perder
 Esta carícia de vento
Que sopra na minha porta
 E alegra meu dia cinzento!
 Sei que na vida deixei
 Muitas coisas por fazer
 Fui amada e muito amei
 Recebi, sem talvez merecer.
 Só não teria valido a pena
 Se a alma fosse pequena
 Como escreveu o grande poeta
 Cuja vida foi tão incerta.
 E se o amanhã não vier,
 Pouco ou nada me importa
Apenas não quero perder
 Esta carícia de vento
 Que sopra na minha porta
 E alegra meu dia cinzento!

(Ana Flor do Lácio)


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Aida assim e por tudo isso
Quero a vida,quero o amor
Esse amor que há de vir
Essa vida que há de fluir
O infinito precipicio é desafio ao devir
Me fascina,mas não me domina.

(Conceição Gomes)