Ao fim ( ou no princípio) era saudades: Domingos Fossari
Ao fim ( ou no princípio) era saudades: Domingos Fossari
Por Carmen Fossari
Esta noite que o som da festa na praça vizinha do mar se agranda
E uma pequena multidão saltita dos evocados sons
Dos músicos ilhéus, tão sonoros!
Cercada de memórias , presenças, ausências
Toco o albúm de fotografias
Evoco alguém que está ausente, e tento sem identificar tatear
Perfis.
Sinalizo um amor recente, outro de um tempo mais longinquo
Outro do país vizinho, outro e outro
( que o amor é sempre único, habita na gente e o compartimos
Segundo os caminhos que serpenteamos
No compasso de acasos e ocasos
Não é o amor que abre um vazio , nem a presença amorosa
Nem a ausência (ainda ontem estavas aqui comigo, tão perto, tão junto, tão nós, tão agora!)
Nesta noite de primavera,penso em pessoas tantas que amo
Universo amplo: familia, amigos artistas, gentes todas as gentes
Que um dia convivi...
Nem a multidão que feliz dança com os ventos na liberdade
Da rua, libertos de paredes,
Nem o povo que trago na minha bagagem de viagem
Da infância, da adolescencia ,juventude a minha recém maturidade
Nem todos juntos estancam este vazio que quase me corrói
Não fosse o poema um espelho
Uma bússola
Um mapa que me guia de retorno ao meu universo das sensações
Que amor algum nem mesmo tu
(toi mon chanteur ,Je t'aimerai toujours, vous savez, nous savons)
e todos com que comparto a vida em momentos especiais
Nascedouros , que renasço do amor que se reinventa,
Dividimos e ele se multiplica
Que encantamento algum de natureza que racionalmente
Eu saiba poderia sanar esta lacuna
É o raro momento da mais profunda inquietude
E surpreendentemente o mais rico e colorido
Painél de retratos pintados da memória
Me involucram...
Me induzem a paisagens humanas, perfis familiares
Olhares amigos, cores vibrantes
Efeitos de luz, aos poucos mais fortes que os efeitos da sombra
De sombreados desenhos, pinturas
Palhetas de cores e o cheiro de terebentina
O quadro a óleo sobre o cavalete
Na mesa pincéis de bico de pena papel alemão , aquarela inglesa
Bicos de Pena suiços e a paisagem ilhéia, casarios, gentes,flora...
Caricaturas e o humor presente
Milhares de traços do mais fino traçado ( bico de pena)
Arte em quadros, livros, bromélias, aquarelas em aguas dançantes
Volto criança escutando histórias lidas de Critian Andersen ,William Shakespeare...
Não sou eu, somos muitos irmãos, irmãs, primos, primas
Que aquela sede de arte e saber ficou impregnada...
Ele segurando pincéis ,livros, sorrindo à vida
Aos poucos tudo esmaece este sentido raro
Quase único de solidão,
E pouco apouco vou percebendo ser saudades
Saudades...sem tradução, sem aquilatamentos apenas uma tatuagem
Junto ao ar que respiro, saudades!
Hoje 25 de Novembro...
Feliz data de nascimento do amado Pai pintor Domingos Fossari
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