"Intempéries"
Intempéries...
Erupção de sentimentos
Variável, persistente, implacável
Cheia de violência, indomável
Fria, insensível, potente
Intransponível, inclemente...
Vendaval arrasta emoções
Achatadas, amassadas
Caem jogadas, tropeçadas
Nas pedras já desgastadas
Cansadas, pobres, coitadas...
Diluem-se ao vento
Até se reduzirem a pó
Calcinante calor, esse amor
Pedrinhas disformes no turbilhão
Jogadas fora, no arrastão...
Chove torrencialmente
Lava chagas, tempera tristezas
Num clamor desesperador
Chove grosso, chove fino
Embriagadas em estertor...
E a chuva lavando, levando
Lava tudo, leva nada
Só ficam jogadas na estrada
Folhas caídas, amareladas
Amassadas, molhadas
Folhas já desencantadas...
E, na ventania que corre solta
Os sentimentos voam também
Voam livres, esvoaçantes
Sozinhos sem ter ninguém
Flutuam a vida, somem no além...
Intempéries das emoções
São relíquias nas orações
Aos trambolhões se misturam
Indefinidas se amontoam
Sem ter rumos, sem direções...
Previsão do tempo:
Instável, sujeito a chuvas
A trovoadas, ventos, ventanias
Em torrentes de nostalgias
Temperatura baixa, tão fria
Silentes, dormentes, querentes...
Depois de tudo passado
Lavado, levado, encharcado
O sol nasce quadrado
Frio , até desesperado
Mas vem vindo devagarinho
Dando vida, tirando espinhos...
Myriam Peres