O TERÇO
De que adianta, rezar aos pés da santa
se não te espanta o mal que se ergue
e que se agiganta tão perto de ti.
Como olhar a miséria assustado e sem jeito
se é ela que ostenta teu teto e teu leito
e a ganância fervilha bem dentro do peito.
Que importa a fome, voraz que vagueia
se através da vidraça a olhar a tristeza
tens sobra na mesa e a barriga cheia.
De que vale gritar feito um desesperado
se bem junto a ti sem nem ser notado
o infeliz sufocado em silêncio esperneia.
o que resta a fazer se não vale a fadiga
de quem implora e mendiga de tripa vazia
se a noite não passa mais veloz que o dia.
como posso pagar as contas do terço
ouvindo o murmúrio da criança no berço
na calada da noite sem ter alegria.
Saulo Campos - Itabira MG