O TERÇO

De que adianta, rezar aos pés da santa

se não te espanta o mal que se ergue

e que se agiganta tão perto de ti.

Como olhar a miséria assustado e sem jeito

se é ela que ostenta teu teto e teu leito

e a ganância fervilha bem dentro do peito.

Que importa a fome, voraz que vagueia

se através da vidraça a olhar a tristeza

tens sobra na mesa e a barriga cheia.

De que vale gritar feito um desesperado

se bem junto a ti sem nem ser notado

o infeliz sufocado em silêncio esperneia.

o que resta a fazer se não vale a fadiga

de quem implora e mendiga de tripa vazia

se a noite não passa mais veloz que o dia.

como posso pagar as contas do terço

ouvindo o murmúrio da criança no berço

na calada da noite sem ter alegria.

Saulo Campos - Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 25/11/2011
Reeditado em 29/12/2011
Código do texto: T3355089
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