ESSE PEQUENO TRAVESSO!
Esse pequeno travesso debruça-se à janela,
Deixa marcas dos sapatos no sofá,
Marca paredes com caneta e aquarela,
Sobe nos galhos do jatobá.
Esse diabrete inquieto tem sangue aceso,
Rosto afogueado e delírio no olhar.
Tem corpo ágil, célere, sem contrapeso,
Pés firmes na terra e asas por sobre o mar.
Os dedos furtam doces e seu semblante amedronta.
Às vezes anjo, às vezes bandido, me mantém sob fiança.
Inventa, trapaceia, brinca de faz-de-conta...
Tem arte para enganar, essa criança!
Planejo algo e ele responde com rebeldia.
Espero um sim, mas ele diz que ainda não.
Se caminho pelo direito de uma via,
Arteiro, ele me segue pela contra-mão.
Se me adianto, ele recua.
Se corro atrás, foge, dispara.
Se paro, ele avança e me tatua.
Se desanimo, me ampara.
Às vezes ilusionista, às vezes um maroto e tanto!,
Não raro passa por mim e finge que não me vê.
Às vezes malabarista, com ares de puro encanto,
Passa por mim e sapeca: Vamos, que amo você.
E assim caminhamos, na mesma partilha atrevida
Porém com diverso intento...
Meu nome dizem que é Vida.
O dele, sabem que é Tempo.
- 19/02/05 -