Canção do Desencontro
Canto, Eu:
Todas às tardes nos encontrávamos.
Era uma aventura vespertina.
Que prazer!
Parecia que nada e ninguém
iria conseguir por fim
àquela cumplicidade.
Todos os dias, agora, nos desencontramos
mesmo estando nossos corpos tão próximos.
Eu penso cabeça,
você, pé.
Nossa conversa é uma fala muda,
repleta de palavras,
vazia de sentimentos.
Deixamos guardados
nossos encantos
em algum, qualquer,
canto.
L.L. Bcena, 07/07/2011
POEMA 490 - CADERNO: POEMAS AZUIS*
*Dedicado ao meu filho, Phill.
AZUL
Uma vanessa tropical travou na campânula
de uma ipoméia
o vôo oscilatório e helicoidal.
Dobra o quimono de franjas sinuosas,
marchetado e hachureado
com minérios de cobre:
aréolas, anéis, jóias concêntricas,
olhos de íris elétrica e de pupila enorme,
ocelos de um leque de pavão.
Sinto o perfume da flor nova,
com mais dois estames, buliçosos,
e quatro pétalas, de um esmalte raro,
molhadas nas tintas de céus fundos,
e cromadas com faiança das lagoas...
João Guimarães Rosa – in: MAGMA
PS- Phill,
observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).
Leonardo Lisbôa.