Sofrimento ou Carta para Marcelo
Sofremos por não nos arriscarmos mais,
Por coisas por pequenas, passageiras,
Íntimas, ínfimas, quase banais.
Sofremos por fragmentos, por sensações, por medo do sofrimento...
Por buscarmos em nos um ser que não queríamos ser.
Sofremos pelo adeus ao dia que se vai,
sofremos pelo sentimento inventado que sentimos,
Sofremos pelas noites mal dormidas,
Lembrando dos amores que deixamos no cais,
São dores antigas e perdidas que não voltam mais.
Sofremos por antecipação, num intervalo ou interlúdio
Feito a brisa leve e solta do vento lúdico.
Olhando nos olhos da noite, no breu da noite,
Alguma coisa da vida a alma do sofrimento,
Como se céus e infernos fossem a mesma coisa.
Enfim, sofremos por primaveras, verões, outonos e invernos,
Que ainda estão por vir.
Pelo voo do colibri,
O despertar do girassol,
O pôr-do-sol, prestes a partir!...
Sofremos por coisas belas que nos une e desune,
Como se fizéssemos trottoir na vida
E um rendez-vou do sofrimento na morte.
Enfim, sofremos pelo dia que desbanca a madrugada
E descobrimos em um sutil e verdadeiro sofrimento,
Que somos pó e mais nada!...