Ah! lilazes de Ângelus harmoniosos,
     Neblinas vesperais, crepusculares,
     Guslas gementes, bandolins saudosos,
     Plangências magoadíssimas dos ares...
 
     Serenidades etereais d'incensos,
     De salmos evangélicos, sagrados,
     Saltérios, harpas dos Azuis imensos,
     Névoas de céus espiritualizados.
 
     Ângelus fluidos, de luar dormente,
     Diafaneidades e melancolias...
     Silêncio vago, bíblico, pungente
     De todas as profundas liturgias.
 
     É nas horas dos Ângelus, nas horas
     Do claro-escuro emocional aéreo,
     Que surges, Flor do Sol, entre as sonoras
     Ondulações e brumas do Mistério.
 
     Surges, talvez, do fundo de umas eras
     De doloroso e turvo labirinto,
     Quando se esgota o vinho das Quimeras
     E os venenos românticos do absinto.
 
     Apareces por sonhos neblinantes
     Com requintes de graça e nervosismos,
     Fulgores flavos de festins flamantes,
     Como a Estrela Polar dos Simbolismos.
 
     Num enlevo supremo eu sinto, absorto,
     Os teus maravilhosos e esquisitos
     Tons siderais de um astro rubro e morto,
     Apagado nos brilhos infinitos.
 
     O teu perfil todo o meu ser esmalta
     Numa auréola imortal de formosuras
     E parece que rútilo ressalta
     De góticos missais de iluminuras.
 
     Ressalta com a dolência das Imagens,
     Sem a forma vital, a forma viva,
     Com os segredos da Lua nas paisagens
     E a mesma palidez meditativa.
 
     Nos êxtases dos místicos os braços
     Abro, tentado de carnal beleza...
     E cuido ver, na bruma dos espaços,
     De mãos postas, a orar, Santa Teresa!...
                                                  
(do livro “Broquéis”)
 

 
Créditos:
www.biblio.com.br/
www.bibvirt.futuro.usp.br 



João da Cruz e Sousa (Brasil)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 20/11/2011
Reeditado em 20/11/2011
Código do texto: T3347179